Enquanto o mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas continuou dando sinais de desaceleração neste começo deste ano, as demais regiões do país mostraram quadro inverso. As seis maiores regiões metropolitanas brasileiras - que fazem parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE - geraram 60,8 mil postos formais de trabalho no primeiro trimestre de 2014, quase 9% menos do que no mesmo período do ano passado, quando o saldo positivo foi de 66,8 mil vagas.
No restante do país, o saldo líquido entre admissões e demissões aumentou 22,6% de janeiro a março, na comparação com igual período de 2013, passando de 198 mil para 242,7 mil vagas. Os cálculos são do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, e não consideram informações enviadas fora do prazo legal à pasta.
As estatísticas do IBGE para os seis maiores centros urbanos corroboram os resultados do emprego formal. Nos primeiros três meses de 2014, o baixo nível de desemprego apontado pela PME foi sustentado pelo pouco dinamismo da População Economicamente Ativa (PEA), que encolheu 0,6% no primeiro trimestre ante igual período do ano passado, enquanto o contingente de ocupados nos mercados formal e informal ficou estável.
Cálculos da LCA Consultores com base no Caged indicam que a participação do interior na geração de empregos com carteira por Estado cresceu em 2013. No Rio de Janeiro, a fatia das áreas fora da região metropolitana no total de vagas formais abertas subiu de 16,9% em 2012 para 27,2%, e chegou a 64,1% no Rio Grande Sul, ante 58,8% no ano anterior.
Segundo o pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Ibre-FGV, a tendência de melhor comportamento do emprego fora das grandes capitais foi acentuada neste início de ano. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, que abrange mais de três mil municípios, o desempenho do interior na criação de novas ocupações também tem sido mais favorável, diz ele. No último trimestre de 2013, as regiões com maior aumento no contingente de ocupados sobre o mesmo período de 2012 foram o Nordeste e o Centro-Oeste, com alta de 3,4% e 3,3%, respectivamente.
O economista do Ibre avalia que as pressões de custo nas regiões metropolitanas podem estar levando o setor industrial a migrar para o interior. Embora a indústria de transformação tenha criado apenas 4,6 mil vagas nas regiões metropolitanas no primeiro trimestre, ante 13,9 mil postos no início de 2013, no restante do país houve saldo de 91,4 mil trabalhadores com carteira assinada no segmento, alta de 3% sobre o mesmo período do ano passado.
Fabio Romão, da LCA, avalia que a maior geração de vagas em cidades menores está mais relacionada à dinâmica atual da atividade, em que o comércio exterior perdeu espaço para o mercado interno, diante da lenta recuperação da economia global. "Para a indústria de alimentos, por exemplo, o mercado doméstico tem grande importância, e esse setor está muito mais presente no interior", diz Romão.
O economista observa que, por não produzir bens de grande valor agregado, a desaceleração da renda não prejudicou esse setor, que criou 21,2 mil novos postos com carteira no interior em 2013, ante apenas 6,8 mil em 2012. Nas seis principais regiões metropolitanas, o saldo de vagas aumentou menos no período, de 8,1 mil em 2012 para 13,2 mil em 2013.
Romão também destaca o desempenho do emprego formal na construção civil. Nas seis maiores regiões metropolitanas, o saldo líquido entre admissões e demissões diminuiu de 32,6 mil vagas no primeiro trimestre do ano passado para 21,8 mil no mesmo período deste ano. No restante do país, houve um ligeiro aumento, de 36,2 mil para 39,1 mil novos postos.
Para Romão, a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida pode ter feito a diferença nos resultados do emprego no interior, onde o valor médio dos imóveis é menor e, por isso, mais famílias podem ter acesso ao programa habitacional do governo. Além disso, diz Romão, como as grandes cidades foram pioneiras no "boom" imobiliário anos atrás, também saíram na frente na desaceleração do setor, que perde fôlego mais lentamente no interior.
Os serviços foram outro ramo que criou mais vagas no primeiro trimestre do que em igual período de 2013. Fora das seis principais regiões metropolitanas, houve aumento de 26,4% na geração de postos com carteira, para 128,8 mil. Nas capitais pesquisadas pelo IBGE para o cálculo da taxa de desemprego, a expansão foi maior, de 36%, com 76,6 mil novos postos abertos. Para Moura, do Ibre, o setor pode estar antecipando contratações temporárias para a Copa do Mundo.
O professor Leonardo Trevisan, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que não é só a indústria que se beneficia de custos mais baixos ao se instalar fora das principais regiões metropolitanas. "O empreendorismo no interior também é mais barato", diz Trevisan, o que acaba gerando mais empregos relacionados à prestação de serviços. As fábricas também trazem para seu entorno uma rede de serviços, acrescenta o especialista.
Trevisan aponta que outro fator por trás do processo que chama de "interiorização" do emprego está numa maior adequação da mão de obra nestes locais. De acordo com o pesquisador, a maior qualidade da educação pública no interior aumenta a qualificação do funcionário, mas outras questões de mensuração mais difícil, como relações familiares mais estáveis fora dos grandes centros urbanos, também têm influência positiva sobre a eficiência do trabalhador.
As empresas que estão indo para o interior têm mostrado cada vez mais interesse na mão de obra local e, por isso, estão elas mesmas qualificando seus funcionários por meio de cursos e treinamentos, diz Rogério Leme, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). "Isso tem um aspecto de desenvolvimento social importante e motiva os governos locais a oferecerem incentivos a essas empresas", comenta Leme.
Para Leonardo Souza, diretor-executivo da Michel Page, os profissionais também têm procurado uma maior qualidade de vida e, por isso, hoje é mais aceita a ideia de que é possível construir uma carreira fora das grandes cidades. Segundo Souza, essa tendência é notável em relação ao Nordeste, que há alguns anos não era vista como uma região tão promissora. Assim como Leme, ele avalia esta mudança como positiva, já que permite o desenvolvimento de outras regiões.
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