“Gestão de pessoas é fundamental para salvar vidas”
Em entrevista à Revista Saúde Business, o CEO da Great Place to Work Brasil, Ruy Shiozawa, analisa a maturidade das empresas do setor
09/05/2014

No final de março, na primeira edição do GPTW Maranhão, pesquisa que reuniu as melhores empresas para se trabalhar na região, o presidente da Great Place to Work, Ruy Shiozawa, estava ao lado de um dos diretores de uma das empresas premiadas quando o executivo mostrou o resultado de um post nas redes sociais que falava que a companhia dele era uma das melhores para trabalhar. Cinco minutos depois, o executivo já tinha recebido três currículos. “A primeira conclusão é a diferença muito grande das melhores empresas e das demais em termos de atratividade”, conta Shiozawa ao relembrar o fato, uma semana depois quando esta entrevista foi realizada por telefone. Na saúde, a atratividade é ainda maior, o que segundo ele retrata a importância chave que os colaboradores têm no setor. Não é apenas um trabalho, como analisa o executivo, é um compromisso em salvar vidas e contribuir para a saúde das pessoas.

Este é o primeiro ano do estudo na área de Saúde no Brasil. Como você avalia a maturidade da gestão de pessoas no setor?
Talvez seja um dos setores que tenha maior preocupação com esse tema. Como no produto final da empresa a dependência de pessoas é muito grande, acho que essa preocupação está sempre presente, pois é muito sensível. Se em outros segmentos o serviço na ponta sai com o problema vai dar um impacto, mas como estamos falando da saúde das pessoas, a sensibilidade desse tema nesta área é muito maior. Mesmo antes de ter a lista de saúde, na lista nacional já tínhamos uma representação do setor. E esse processo [parceria IT Mídia e Great Place To Work] vai ajudar a reforçar mais ainda, fazendo com que outras empresas que ainda não estejam no mesmo patamar, comecem a se preocupar com esse assunto. Na lista da Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil deste ano, das 130 premiadas, 14 são do segmento.

As empresas do ranking de Saúde em 2013 tiveram, em média, 113 candidatos para cada vaga aberta, número 24% acima das premiadas na lista nacional. Como você avalia isso?
Uma análise importante é a diferença significativa de atratividade, independentemente do setor, é se a empresa tem um bom ambiente de trabalho. Um exemplo, na primeira premiação regional do Maranhão o pessoal começou a postar nas redes sociais. Cinco minutos depois de um dos diretores de uma dessas empresas ter postado, ele já tinha recebido três currículos. A primeira conclusão é a diferença muito grande das Melhores Empresas e das demais em termos de atratividade e essa diferença de saúde em relação à média do Brasil volta ao ponto da importância das pessoas na área de saúde. Ou seja, talvez tenha um “gap” até maior entre as melhores e as demais na área de saúde, pois ainda se tem ambientes muito ruins com jornadas exaustivas, pessoas com três ou quatro empregos que correm para lá e para cá; chega uma hora que a qualidade do serviço está caindo, ele [o profissional] está fazendo um trabalho automático. Por outro lado, quando as pessoas percebem que lá tem um ambiente legal, essa atratividade fica mais forte. Isso reforça a importância do trabalho focado na saúde.

Como você analisa o impacto na cadeia?
Quando se tem um ambiente melhor dentro da empresa, [a pessoa] se sente mais bem tratada, mais estimulada e mais engajada no seu trabalho e vai gerando serviços internos e externos melhores. Então, quanto mais essa engrenagem funcionar, a chance da ponta ser melhor é muito grande. Ligado a isso, é interessante o fator de retenção neste segmento. Quando se pergunta ‘por que você fica na empresa?’, 41% das pessoas das premiadas do setor de saúde responderam que ficam pela oportunidade de crescimento e desenvolvimento, 26% pela qualidade de vida e 16% pelo alinhamento de valores, 14% remuneração e benefícios e 3% estabilidade. O fator de retenção “alinhamento de valores”, ou ´estou nessa empresa porque o trabalho tem um significado’, na pesquisa nacional é de 12%, na área de saúde é 16%, mostrando que se tem mais gente que está engajada com o propósito de saúde: ‘estou aqui porque estou salvando vidas’ ou ‘contribuindo com a saúde das pessoas’, ou ainda, ‘por mais que seja difícil, o meu trabalho tem um significado especial’.

Os CEOs de Saúde permanecem mais tempo no cargo com nove anos contra sete anos do ranking nacional. Como podemos avaliar esse dado? Positivo ou negativo?
Positivo. No mundo (a média global) é 4,8 anos e no Brasil (a média nacional) é de 2,5 anos, o que quer dizer que somos mais nervosinhos aqui, ou seja, se o ‘cara’ sentou na cadeira e não deu resultado, troca. Comparando a média nacional com o ranking das melhores do Brasil pulamos de 2,5 para 7 anos, ou seja, uma relação intrínseca entre as duas coisas: o CEO fica mais tempo e consegue fazer um trabalho mais profundo de melhorar o ambiente de trabalho, melhorar os resultados e vai ficando. De 2,5 para 7 é um salto muito grande. O resultado de venda, por exemplo, talvez se consiga mexer muito de um mês para o outro, já a gestão de pessoas, como depende da formação e do desenvolvimento, é mais um pano de fundo. Ou seja, esse dado mostra que se o CEO está há mais tempo, consegue implementar um melhor ambiente de trabalho e, consequentemente, fica mais tempo (na posição).

Comparando a porcentagem entre homens e mulheres, elas são a maioria nas empresas de saúde e também nos cargos de liderança. Mas entre as empresas do ranking apenas sete ocupam o cargo de CEO. Essa é uma realidade brasileira ou setorial?
É uma realidade brasileira. No Brasil é menor a quantidade de mulheres, percentualmente o número de mulheres que está na primeira posição é menor, então isso é um amadurecimento de mercado. Se compararmos esse dado com 10 anos atrás, ele já evoluiu muito. A saúde reflete a mesma coisa, tem mais mulheres em cargos de gestão porque tem mais mulheres na área, mas ainda estão um pouco atrás [nos cargos de alto escalão]. Mas claramente há uma evolução. Um tempo atrás quando colocávamos uma mulher numa posição de gestão e primeiro nível, na realidade se procurava uma mulher com perfil mais masculino, aquela que “brigava” e “chutava a porta”. Hoje, não só estão aumentando o número de mulheres como também as empresas estão aproveitando o perfil feminino, que é a capacidade de fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo. Isso é uma característica bem feminina que vem da maternidade, pois se é mãe, se cuida da casa e vai trabalhar, são sempre múltiplas coisas e isso se reflete no ambiente de trabalho. Quando se tem mais coisas para fazer, se delega mais e se treina mais, ou seja, se treina a empregada, a secretária e a equipe, pois ela sabe que precisa das pessoas para todas essas funções acontecerem. Em resumo, nos últimos anos aumentou a presença feminina nas empresas e aumentou o percentual de mulheres na liderança.





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